terça-feira, 29 de julho de 2014

Resenha - Aventuras de Alice no país das maravilhas e através do espelho e o que Alice encontrou por lá

AVENTURAS DE ALICE EM BUSCA DO AMADURECIMENTO.

CARROLL, Lewis. Aventuras de Alice no país das maravilhas. In:______. Alice: Aventuras de Alice no país das maravilhas e através do espelho e o que Alice encontrou por lá. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.


Lewis Carrol, autor de Alice no País das Maravilhas e Alice através do Espelho foi um escritor, poeta, matemático e fotógrafo inglês. Um homem de diversas facetas e interesses, sendo sua obra-prima, inclusive, produto dessa diversidade.
Ainda no período concernente ao nascimento da fotografia, Carrol já possuía o estranho hábito de fotografar meninas nuas. Essa atitude sua, junto a frases polêmicas e a preferência pela companhia infantil tornaram-no constante alvo de especulações envolvendo pedofilia. O.O
Após conhecer Alice Pleasance Liddell, então com 10 anos e filha do reitor da faculdade onde lecionava matemática, Carrol passou a fotografá-la, a fazer passeios e a conhecer cada vez mais os sonhos e os problemas da menina. Observando todo o seu comportamento, Carrol passou a traçar o modelo ideal de personagem para um livro que segundo ele, surgia aos poucos conforme ia contando a história para a própria Alice.
Alice no País das Maravilhas foi publicada originalmente em 4 de julho de 1865 e a partir daí suas adaptações só foram se multiplicando. O fascínio do mundo pela obra reside em sua facilidade de compreensão pelas crianças e a complexidade de ideias que vão se adicionando ao texto a cada vez que o leitor, mais maduro, relê a obra.
A linha criativa é simples, porém perfeita. Alice, uma garota que está cansada de ouvir as histórias de livros sem figuras que sua irmã mais velha lhe conta, começa a seguir um apressado coelho branco até a sua toca, onde cai em um buraco e é levada para um local cheio de criaturas antropomórficas e bizarras, que muitas vezes chegam a beirar a loucura.
A organização dos doze capítulos é feita de maneira confortável ao leitor. Apesar de todas as passagens terem ligações entre si, cada capítulo apresenta uma história fechada, com começo meio e fim, fazendo com que mesmo o leitor mais apressado consiga ler um pouco da história por dia.
Mesmo curto (e com figuras), o livro traz diversos enigmas matemáticos e referências a eventos e personalidades que podem demorar um bom tempo para serem decifrados, ainda mais nos dias de hoje, já que mesmo para as pessoas anglófonas, muitas das palavras e referências de dupla interpretação já não fazem o mesmo sentido nos dias de hoje, sendo necessário garimpar a história e a linguística da língua inglesa para tal.
O livro como um todo representa uma crítica às histórias pueris e politicamente corretas que eram feitos para crianças durante o reinado da Rainha Vitória, época que o livro foi escrito. O molde cheio de morais pré-formatados, foi abandonado pelo autor, que misturou elementos criativos, fugindo de uma “moral engessada”.
Alice no País das Maravilhas é um livro grandioso por ser ele inteiro uma grande analogia ao amadurecimento. Alice é uma personagem que está numa idade capciosa, onde o ser humano é posto a prova todos os dias. Está em um momento de passagem entre a infância e a as responsabilidades do mundo adulto, de forma, que em muitos momentos é considerada “grande” para apresentar certos comportamentos e criança demais para entender certas explicações, o que termina por ser conflitante, pois, pressupõe-se que ainda não é madura o suficiente para agir ou pensar de determinada maneira aparentemente mais adulta, algo constantemente cobrado dela.
Carrol retrata tal situação no País das Maravilhas por meio dos cogumelos. Comendo um lado do cogumelo, Alice cresce, comendo do outro lado ela diminui. Experimentando os lados do cogumelo, Alice tem a oportunidade de experimentar os dois lados a qual estava inserida, o mundo adulto e o mundo infantil.
Fica claro na história que todas as vezes que ela cresce, ela tenta parecer mais adulta. Como quando encontra a mãe pássaro que a confunde com uma serpente, ou quando entende sua superioridade reconhecendo a falta de força física de um baralho de cartas. Nos momentos em que está pequena, a personagem sempre busca abrigo, alento, algo a que se apoiar para seguir sua busca pelo jardim que encontrou nas primeiras portas que precisava abrir.
Metáforas de crescimento estão presentes em cada parte do livro, mas vale destacar também o encontro de Alice com a Lagarta que fuma narguilé. Pela primeira vez no livro, Alice acaba se deparando com a questão mais fundamental de sua idade: quem é ela.
No livro, Alice precipita-se muitas vezes a responder. A dúvida permeia a cabeça dela que não tem certeza se é mais importante definir-se pelo seu presente ou pelo seu futuro. E a dúvida não foi colocada na cabeça de Alice por meio da figura de uma Lagarta por acaso: lagartas são frequentemente caracterizadas como borboletas em crescimento, logo não pelo que são, mas pelo que serão.
As várias faces de personagens metaforizados pelo livro buscam provocar e ao mesmo tempo comover o leitor. E assim como todo o País das Maravilhas, guardam segredos discretos, mas concretos, que vão dando a Alice condições de enxergar o mundo cru e sem figuras que ela tanto rejeita.
Vale lembrar que toda a aventura de Alice se passa em um sonho seu. Assim, todos os personagens são reflexo do que pensa a própria Alice. Fazendo das pessoas que ela encontra no País das Maravilhas algumas das visões que ela tem dos adultos do mundo real.
Vários das mais comuns caricatos de pessoas estão presentes no livro. Afinal quem nunca conheceu pessoas de alto valor no meio/profissão que exercem que preferem resolver tudo aos gritos, sem conhecer as opiniões ou os pontos de vista das pessoas ao seu redor. A Rainha de Copas é a representante máxima de professores autoritários que tantas pessoas já se acostumaram a tolerar.
A própria majestade da rainha ser derivada de um baralho de cartas já reflete uma parte do mundo adulto: a vida é como um jogo, onde se conta com a sorte, se blefa, se mente, se tenta esconder direitos e abusa dos deveres.
A quantidade de disputas que todos os personagens do livro entram em diversas situações, desde a conturbada casa da Duquesa até os lamentos pessoais da Tartaruga Falsa, mostram o quão frágil o adulto é, apesar de tentar mostrar as crianças a sua força interior.
Apesar de serem o parâmetro para o amadurecimento, quando mais Alice conhece o mundo adulto através das analogias do País das Maravilhas, mais a garota passa a entender o quão conflitante é a imaturidade do mundo adulto.
Ao mesmo tempo, a própria Alice entra em conflitos quando vislumbra sua imagem adulta, abordando os vários lados psicológicos que a menina (e todos os outros adultos) tende. Enquanto o Gato de Cheshire representa o seu id, seu lado criança, brincalhão, despreocupado, que segue instintos e faz tudo o que tem vontade, o Coelho Branco representa a Alice madura, responsável, que cumpre com suas obrigações e age determinada quando é preciso ter pulso firme.
Toda a interpretação, seja ela própria ou derivada, parte do pressuposto de que são apenas interpretações. Carrol nunca deixou claro o que realmente Alice queria transmitir ao leitor. A busca por respostas é um trabalho que exige muito esforço do ser humano, por isso diferente das obras infantis da época, Alice é a tentativa do autor em despertar na criança sua capacidade inventiva para encontrar suas repostas ao invés de tê-la pronta e digerida. O autor soube captar a essência da imaginação humana para compor uma história de autodescoberta, cheia de enigmas e novas visões que se enriquecem a cada nova interpretação.


O MUNDO AO CONTRÁRIO.

Tendo conhecimento sobre Alice no país das maravilhas é bem fácil conceber como foi estruturado Alice através do espelho. O livro, bem como seu antecessor é dividido em doze capítulos com ilustrações.
A história inicia-se com Alice brincando com suas três gatas e à medida que ela vai conversando com as felinas, começa a imaginar como é a vida dentro do espelho. Começa a observar e percebe criaturas que estão imóveis na sala como as peças do xadrez se movimentando do outro lado do espelho. Ela prontamente resolve entrar nesse mundo ao contrário com muitos conceitos invertidos e acontecimentos imprevisíveis, tendo como tema o jogo de xadrez e encontra lá criaturas fantásticas e excêntricas que nunca antes haviam visto uma menina de verdade.
Apesar de como seu antecessor ser classificado como livro infantil o livro possui simbolismos, referências e conceitos de diversas áreas do conhecimento, no entanto, predominam os matemáticos referentes a formação do autor.
Trocadilhos e referências da época também são encontrados, sendo os mesmos de difícil compreensão atualmente.
O livro diverte. A cada capítulo a curiosidade se faz mais e mais presente, já que é totalmente impossível prever que personagem estranho aparecerá e o que acontecerá a seguir. Apesar de ser classificado como infanto-juvenil (e em várias passagens ser bem evidente o lado infantil), não é de todo um livro só para crianças. A obra traz em si alguns simbolismos e pode ser interpretada de diversas maneiras.
A edição da Editora Zahar é realmente obrigatória de se ter na estante. Além de ter as duas histórias – clássicos da literatura –, traz os textos na íntegra e ilustrações originais de John Tenniel que dão uma beleza a mais ao texto e contam a história por meio das imagens nos permitindo viajar ao mundo de sonhos de Alice.

2 comentários:

  1. Meu Deus!! Pq ir tão além? Nos míííínimos detalhes? kkkk
    parece que agora tá beeeeem mais complexodo que da vez que ouvi de ti ..
    Preciso ter um grau de intelectualidade maior pra eu poder
    'começar' a entender .. rsrs.
    Parabénsss, amiga ;*

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    1. Ownn <3 Obrigada Syni. E deixa de ser exagerada senão espalho teu segredo (Gente! Synara é intelectual e foi premiada no ENEBD!). Beijos.

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