terça-feira, 29 de julho de 2014

Poesia do dia - Autopsicografia - Fernando Pessoa


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.



E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Apontamentos:

Tenho um fraco por metalinguagem, não só na poesia ou literatura em si. Descobri essa predileção há pouco tempo, embora a conserve há muito. Filmes como essa temática como A Rosa Púrpura do Cairo do Wood Allen também me encantam. Por falar em filmes assisti recentemente um que trata sobre a obra do Allen chamado Paris-Manhattan que apresenta essa característica também e provavelmente renderá um post.

Digressões a parte essa poesia do Fernando Pessoa retrata como ele vê-se enquanto poeta um artista ficcional (fingidor) que empresta seu sentimento (dor) a poesia, tanto a dor fictícia quanto a real. Aos demais viventes resta relatarem suas dores, mas somente o poeta consegue empregar seu poder criativo de forma a imaginar dores não sentidas e transformá-las em arte. 

Se sintam a vontade para comentar. Bjinhos.

2 comentários:

  1. Amei o poema!
    Você comentando então... perfect.
    Já ouvi muito falar sobre "A Rosa Púrpura do Cairo" mas nunca assisti,
    quando tu vier vamos assistir juntas, pq tu vai ter que me explicar mesmo
    rsrssrsrsr
    bjuuuuuuuuuuuuu

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    Respostas
    1. Precisamos fazer uma sessão de cinema em casa! Essa tua modéstia me mata. Linda. Bjs.

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